sexta-feira, 13 de junho de 2008

Nota-se que a julgar pela falta de otimismo eu não devo ser um brasileiro

Memorial JK em Brasília





O Brasil é o país do futuro. Meu avô escutava isso quando criança. Hoje ainda escutamos.
Possivelmente amanhã, o "típico otimismo do alegre povo brasileiro" que a Rede Globo implanta cada dia mais fundo nas cabeças, mostrando o belo futebol e mascarando a real situação social, como não faz sentido algum há tempos, já terá encontrado seu túmulo entre nossos filhos. Não posso dizer a que conseqüências isso nos levará.
O certo é que, quando os indivíduos estiverem brigando por água e comida, habitando cabanas sobre os enormes aterros sanitários em que terão se trasnformado as metrópoles, e se degladiando no melhor estilo Mad Max, o Brasil será lembrado como o antigo país do futuro sem nunca ter sido do presente.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Afegã

O Sol quadrado
Um mundo de impossibilidades
é o que vê através da burca
Esta prisão de crueldade máxima

O tempo não prospera
O clima é sempre o mesmo
árido, infernal
A vida rastejando clama por socorro

Quem ditou as regras
que se tornaram tradições?

Esqueça o riso
Esqueça seus sonhos
Não esqueça o ódio
A inocência será castigada

Obedeça ao homem
Em nome de Deus

Dor e solidão: suas eternas companheiras
Crescer sem ter infância
E muitas dores ainda a conhecer

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Aaaa cordei

Acordei de uma vida
É engraçado como um sonho de segundos pode parecer durar muito mais tempo

Parecia tão real e terrivelmente incontrolável
Acordei para a vida

Translúcido


Lúcido? Nunca fui lúcido
Antes um quase louco retraído
querendo me libertar da camisa de força da sociedade
Translúcido. Não, transparente
Já não me escondo mais na loucura
Trago-a agora aos sentidos de todos
Quero que sintam o sabor inexplicável
do irracional, do passional
As estranhas texturas do ilógico
A novidade das coisas sem nome
A música das cores, os cheiros dos sons
Só mesmo louco para sentir tudo isso
Só mesmo louco para enxergar a realidade

terça-feira, 15 de abril de 2008

Urgente


Chega! Não aguento mais
Como pude todos esses anos viver assim?
Sei agora
Não posso mais com ele dividir involuntariamente minhas noites
inventando mecanismos psicossomáticos para suportar a dor
O que tenho de fazer é dele dar cabo
e resolver-se-á o problema
Mas como matar um sonho?
Esse é o Freddy Krueger da minha vida

"Sócrates?" ou "O humilde"


"O homem que só sabia que nada sabia"
Óleo sobre tela
Esse eu pintei prá Bel e está no quarto de Zeca

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Der Schrei


Será que um mundo justo ele encontrou e a igualdade conheceu? Será que ele já pode parar de chorar? Difícil aceitar que essa fosse sua única saída. Talvez tivesse razão.
A beleza, ele entedia como ninguém, embora não se enquadrasse nos Padrões Sociais Internacionais de Beleza e Estética - impostos por sei lá que diabo de convenção -, mas envergonhava-se de apreciá-la como queria e gostava, como deve ser a beleza apreciada; a pura beleza que existe nas coisas, a beleza tão tocante de simples gestos, a beleza perfeita da natureza.
Esquisitão, maluco, nerd. Não podia ser ele mesmo. Por quê?
Logo a feiúra saltava-lhe aos olhos como o pano vermelho aos olhos do touro enfraquecido e cegado pela luz do dia após várias horas de confinamento num cubículo escuro sem comida e água. Crueldade humana. Aliás, um sentimento exclusivamente humano. A mesma crueldade por trás dos preceitos que ditam os padrões de beleza.
Só podia ver a merda. A sujeira, o fedor do lixo, da miséria, da violência. Tudo isso e as pessoas se preocupando cada vez mais em emagrecer e andar na moda.
Na arte buscou refúgio, mas isso logo se tornou um inferno. No palco podia ser quem quisesse, mas na vida não era tão fácil. Era o papel que nunca quis representar. Sim, ser sensível pode ser um inferno quando todos à sua volta desprezam seus irmãos em nome da prosperidade financeira.
Nas rodas, seu disfarce era perfeito. Que ator! Ora, não somos todos atores? Era sempre tão radiante, mas bastava um olhar observador de um amigo para que aquela extrema confusão mental que sentia, sua inquietação, seu desespero, ofuscassem todo o brilho e alegria que ele insistia em fingir. Nem a arte podia salvá-lo. Talvez um gesto de amor; alguém que o acolhesse, e ensinasse de novo a enxergar a beleza. Sentia que não podia encontrar nesta vida tal amor. Isso só fazia aumentar sua angústia. Compreendia agora o que sentia o homem naquele quadro de Edvard Münch. Uma dor terrível que não podia mais suportar.
Viu a chance que há algum tempo queria nos remédios de sua avó.Quem toma remédios tão terríveis? Remédios. São mesmo para melhorar a saúde? Poderiam sarar sua alma doente? Quatro pequenas pílulas seriam o suficiente para o sono sem despertar, mas queria ter certeza. Um homem precavido vale por dois. Não podia mais acordar neste mundo tão cruel. Um vidro inteiro, e a cura garantida. O refúgio certo nos braços da morte.
Partiu sem dizer adeus.
Alguém realmente se importa com isso agora? Alguém se importava antes?
Será que ele já pode parar de chorar?